Projeto “Envelhecer com Vida” leva a palco os desafios do envelhecimento ativo

Organizado pela Santa Casa da Misericórdia de Chaves, o projeto multidisciplinar de apoio à terceira idade e à deficiência que surgiu para quebrar barreiras e mitos dando participação ativa aos seniores institucionalizados subiu ao palco, na sua décima primeira edição, mostrando que a idade não deve ser sinónimo de isolamento e solidão.

O “Envelhecer com Vida” é um projeto multidisciplinar pensado pela equipa de animação sociocultural da Santa Casa da Misericórdia de Chaves para apoiar o envelhecimento.

Por ser uma questão relevante a iniciativa foi criada há onze anos, pela equipa de animação sociocultural com o propósito de através de atividades de animação sociocultural, lúdico recreativas e ocupacionais para a estimulação e manutenção das capacidades físicas e psíquicas da população sénior. “Promover um envelhecimento ativo, procurando assim prevenir situações de isolamento social, num ambiente de convívio e cooperação institucional”, referiu Carla Simão, animadora sociocultural da Misericórdia de Chaves.

Uma cooperação “inclusiva” é para os promotores do evento “fundamental”, acrescentou Luísa Teixeira, que integra igualmente a equipa de animação da instituição anfitriã, que seja capaz de “valorizar as capacidades, competências, saberes e culturas dos utentes, das diversas instituições do nosso concelho, através da prática de atividades de animação sociocultural, proporcionando assim momentos de bem-estar físico, emocional e cognitivo”.  

A Misericórdia de Chaves tenta contrariar através deste evento que mais idade não tem de ser sinónimo de isolamento ou solidão. “É um desafio para nós, animadores, trabalhar a aceitação dos nossos utentes perante as limitações próprias da idade”, defendeu o animador Dinis Martins. Contudo, é essencial que a senioridade seja vista de forma diferente, “um tempo em que os mais velhos podem e devem continuar a ter qualidade de vida, a sentir-se úteis à sociedade, à família e aos amigos”, frisou a animadora Marisa Alves.


Combater o isolamento e a exclusão social 

Quando questionado sobre o que representa participar neste projeto João Sousa, é determinante “tira os meus pensamentos da cabeça e tira a minha tristeza”. Com 19 anos, frequenta a Associação Flôr do Tâmega - Apoio a Deficientes (AFTAD) e juntamente com Óscar Santos, de 30, subiu ao palco do auditório da Igreja da Sagrada Família, em Santa Cruz Trindade para uma demonstração de uma aula de exercício físico. “Motivação” foi a palavra que Óscar encontrou para definir a sua participação “é uma alegria estar em palco. Sinto um orgulho enorme quando as outras pessoas nos estão a ver e que estão felizes por isso”.

Desconstruir o preconceito foi sinónimo daquela prestação. Para Luís Pires “a inclusão é isso, é mostrar que eles também são capazes”, sublinhou o animador da AFTAD, que assegura “todos os dias eles estimulam-nos de maneiras diferentes. Damos conta que nós não temos problemas, eles até podem ter mais do que nós e são felizes”.

A alegria entrou em palco, mais uma vez, pela mão da D. Adelaide, a divertida octogenária, encarnada pelo animador Dinis Martins. 

Aos 78 anos de idade, Lurdes Afonso, estreou-se no palco do “Envelhecer com Vida”. Encarou a participação como uma “maravilha”. “Adorei e fartei-me de rir”, acrescentou a utente do Lar Nossa Senhora da Misericórdia – Casas dos Montes, da Santa Casa da Misericórdia de Chaves que atirou, entre algumas gargalhadas “agora é que eu estou a viver a minha mocidade”.

Já Alice Teixeira, repetente nestas “andanças do espetáculo”, como a própria disse, com desenvoltura, não aparenta os 93 anos que carrega. A utente do Lar de Santo António de Monforte olha para a iniciativa como “um bom remédio”. “É uma felicidade muito grande estarmos aqui todos juntos, unirem-se os lares todos, porque a gente nem se lembra de mais nada”.

“Isto faz falta que é para ninguém se esquecer de nós, dos mais velhos”, acrescentou Idalina Morais, utente do Centro de Dia do Centro Social de Santa Clara de Sanjurge, para quem a velhice deve ser encarada “com muita estima por quem cuida de nós”, respondeu com emoção.       


 

Exaltação de alegria fruto de um trabalho de todos

 

É exatamente no contexto da animação socioeducativa na população adulta, uma das diversas áreas de intervenção da Santa Casa da Misericórdia de Chaves que o provedor, Jorge Pinto de Almeida, aplaude a iniciativa que que tem perdurado no tempo. “Só posso estar muito contente, de conseguirmos ano após ano, dar continuidade a uma atividade que é do agrado de todos, porque é sinónimo de celebração da vida”. “Os seniores, hoje os nossos protagonistas em palco, são a razão da nossa existência e com a união de todos podermos transformar este dia numa exaltação de alegria é notável”, afirmou, enaltecendo “o esforço de todos os técnicos de animação sociocultural e demais cuidadores pelo empenho e dedicação. Sem eles, nada disto seria possível”.

Quem também subiu ao palco foi a Tuna da Universidade Senior Rotary Club de Chaves, que se dedica a ações solidárias e sociais. “A Tuna é um prolongamento do espírito rotário, ou seja, de solidariedade e disponibilidade para os outros”, afirmou o delegado da Tuna, Armando Ruivo.

A décima primeira edição do “Envelhecer com Vida” contou com a presença do Presidente do Município de Chaves, Nuno Vaz que sublinhou “o papel insubstituível que a Santa Casa faz no nosso concelho, em várias dimensões, da infância e juventude aos nossos seniores. Cuidar dos mais velhos é ao mesmo tempo uma vocação, mas é também um ato de elevação e de consideração”.  

Estiveram igualmente presentes, Paula Chaves, vereadora da ação social do Município de Chaves; José Carreira, presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz Trindade e Sanjurge; Germana Alhinho da Comissão de Proteção de Idosos de Chaves e o Pároco de Santa Cruz Trindade, padre Guerra Banha que finalizou o evento com uma oração e uma bênção conjuntas.

 

Sandra Gonçalves 


14/10/2024

Sociedade