Associação Just a Change reconstrói casas em Vila Pouca de Aguiar com 20 voluntários

Sob o lema “reabilitamos casas e reconstruímos vidas”, a associação Just a Change aliou-se, uma vez mais, ao Município de Vila Pouca de Aguiar para reconstruir três casas no concelho. A equipa conta com 20 voluntários que, durante 15 dias, vão recuperar as casas de três aguiarenses.

A Just a Change é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que, “com a ajuda de voluntários, se dedica à reabilitação de casas de pessoas que vivem em situação de Pobreza Habitacional, em Portugal”, diz a organização. É durante o verão que realizam os chamados “programas Camp In”, que duram 15 dias, onde reabilitam habitações localizadas em diversos municípios de Portugal. Desde 2018 que são realizados projetos entre a associação e o município aguiarense, através de um protocolo de cooperação firmado ente as duas entidades.

Catarina Fontes tem 22 anos, desde os 18 que faz parte da Just a Change e, nesta edição de 2025, é Diretora do Camp In Vila Pouca de Aguiar. Este ano, o Camp In envolve três casas que serão reconstruídas em Soutelinho do Mezio, Eiriz e Tourencinho, cujos proprietários vivem sozinhos.

Ao contrário do que é costume, a equipa de voluntários destacada no corrente ano para Vila Pouca de Aguiar tem idades compreendidas entre os 18 e os 54 anos. Apesar de não haver restrições nas idades, apenas a idade mínima de 18 anos, habitualmente os candidatos estão na faixa etária “entre os 18 e os 25, mas cada vez mais vemos pessoas mais velhas, o que é ótimo, que ou já não estão a trabalhar e têm tempo para vir ajudar, ou até tiram férias de propósito para vir e acrescentam muito aos campos, ter experiências de vida e ter pessoas mais velhas”. Também têm vindo a assistir a voluntários que voltam no ano seguinte para novos desafios. Na edição de 2025, chegados ao concelho aguiarense no dia 10 de agosto, foram divididos pelas localidades e estarão a colocar mãos à obra até dia 24 de agosto, prazo em que as três casas estarão prontas.

Sinergia entre Just a Change e Município

Para Ana Rita Dias, Presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, a sinergia entre a Just a Change e o Município valida “mais uma situação de proximidade com as pessoas que necessitam de ajuda para recuperação ou reabilitação das suas habitações e, por haver muitas vezes constrangimentos vários, a Câmara não consegue fazer candidaturas a programas de apoio ou ajudar de outra forma”.

A autarca reafirma que com a parceira Just a Change e respetivos voluntários, é possível “ajudar nestes casos sociais para que se consiga dar uma habitação digna a estas pessoas e melhorar as suas condições de vida e o conforto nas suas habitações”. Ana Rita Dias relembra que “muitas delas lutaram grande parte da sua vida ativa para conseguirem ter a sua casa e a Câmara Municipal não podia deixar de estar ao lado deste projeto para continuar a ajudar as pessoas”.

Desta forma, o Município dá “apoio na execução de obra e logística”, disponibilizando uma verba de “até vinte e cinco mil euros”, fornecendo alojamento e refeições aos voluntários.

Processo de seleção das casas

Para se chegar até às casas, dá-se um processo de seleção com casos previamente sinalizados pelo Município, tendo em conta as condições familiares e económicas. “É feito um levantamento social dentro do serviço de ação social, onde temos várias pessoas referenciadas”. No caso do Camp In deste ano, são três as habitações a serem intervencionadas e, frisa a Presidente da Câmara, “se conseguirmos fazer pelo menos três ou quatro por ano, já é muito bom”.

Mãos à obra

Catarina Fontes explica como se processa a ação desde o primeiro passo no terreno, após a seleção das habitações, onde preparam a casa para a remodelação. “Habitualmente, quando chegamos, as casas têm muitas coisas e a equipa de coordenação vem alguns dias mais cedo para fazer esse trabalho de retirar coisas, deixar a casa pronta para quando chegarem todos os voluntários e a casa estar preparada para se começar a trabalhar”. Foi o que fizeram nas três casas a reconstruir.

A nível de organização de tarefas, diz a diretora do Camp In Vila Pouca de Aguiar, cada casa tem um mestre de obras com conhecimento prático e um coordenador que “faz a ponte entre o mestre de obras e os restantes voluntários”. Por norma, os voluntários trabalham em pares e, quando se verifica que têm mais capacidades para determinada tarefa, ficam alocados a essa função.

“Reabilitamos casas e reconstruímos vidas”

Para a IPSS, não se trata apenas de reconstruir casas, uma vez que incluem uma componente social nos seus projetos. “A base do projeto não é só a casa, costumamos dizer que reabilitamos casas e reconstruímos vidas. Estamos aqui não só para deixar a casa digna e pronta para a pessoa viver aqui, mas também tentamos fazer esta parte de acompanhamento e de conhecer o beneficiário”. Para tal, afirma, os voluntários são incentivados a “fazer pausas, e fazer perguntas ao beneficiário, para que o conheçam um bocadinho”, uma vez que “têm sempre histórias para nos contar a nós e nós acabamos por receber imenso deles”.

Um outro fator referido por Catarina Fontes é verificarem “evoluções muito boas nos beneficiários que depois começam a ter mais cuidados com a casa e cuidarem mais de si”.

Neste sentido, Ana Rita Dias sente-se grata pela vinda dos voluntários que se associam ao projeto, reafirmando a sua posição quanto aos jovens. “Cada vez mais digo que temos que acreditar nos nossos jovens, nos jovens de Portugal, que são o futuro e, num futuro próximo, teremos realmente pessoas a terem proximidade, a cuidarem dos mais velhos e a olharem para estes casos sociais com olhos de ver”.

A representante do município analisa ainda outro ponto quanto à receção de jovens que vêm de outras partes do país. “Muitos deles não conhecem estas realidades, em que há pessoas que vivem nestas condições e acabam por sentir o nosso território de outra forma. Certamente que isso para o futuro valerá muito, e vai ajudar-nos a recuperar aquilo que de melhor temos na nossa terra”.

“Também foi um desafio para mim”

Bartolomeu Santos tem 19 anos, é de Lisboa, e faz parte do grupo de voluntários que está a reabilitar casas em Vila Pouca de Aguiar. Soube do projeto através da mãe que o incentivou a mergulhar na experiência “porque quando era criança, o meu trabalho de sonho era ser construtor e enquadrou-se perfeitamente com tudo o que eu queria”. Confessa que adora “o trabalho pesado, lixar e pregar” e que este ano irá avançar para o curso de arquitetura pelo que “faz muito sentido a nível de aprendizagem fazer isto”. Ainda nesta linha, para Bartolomeu Santos é “muito importante um profissional estar no campo de trabalho e saber o que é que lá acontece”.

Em relação à sua experiência, revela que não só ajudam outros como também têm ganhos pessoais. “É a primeira vez que me associo a algum projeto de voluntariado. Sinto que é muito importante porque ajudando os outros, ajudamo-nos a nós”. Bartolomeu Santos desafiou-se a si próprio uma vez que, não tendo muitas experiências de convívio, quis dar a volta à situação e “conhecer pessoas de outros sítios”, relembrando que está a “cinco horas de casa e quis ir o mais longe possível, para viver esta experiência”.

Acredita que vai sair uma pessoa diferente após o projeto, “super contente, porque sabe mesmo bem conseguir ajudar pessoas” e conclui que “é importante também mudarmos de sítio para conseguir mudar o pensamento”.

Abraçar a causa

Para fazer parte do projeto basta aceder ao site da instituição. “As inscrições normalmente abrem em maio, as pessoas têm acesso a todas as localidades e datas e, consoante as suas disponibilidades e as vagas, são alocadas aos campos”, explica Catarina Fontes.

Segundo dados apresentados no site da Just a Change, até ao ano de 2024 já realizaram cerca de 180 intervenções entre casas de famílias e instituições sociais, envolvendo 6500 beneficiários com o apoio de 7000 voluntários, em 25 municípios do território português.

 

Ângela Vermelho

Fotos: Joana Lopes


25/08/2025

Sociedade