Chaves abdica da UEFA para criar estrutura e cimentar o clube na Liga bwin

Francisco José Carvalho garante que o Desportivo de Chaves tem que dar um passo de cada vez e neste momento não tem estrutura para abraçar um projeto dessa dimensão.

O Chaves não vai participar nas competições europeias de 2023/24, mesmo que consiga terminar a Liga Bwin em 5° ou 6° lugar. Os Valentes Transmontanos não efetuaram a sua inscrição junto da UEFA e segundo o presidente da SAD, Francisco José Carvalho, fizeram-no de forma consciente pois ''o clube quer criar estrutura e cimentar-se na 1ª Liga, com o objetivo imediato de proceder a melhoramentos no estádio, para conseguirmos o licenciamento para a próxima época. Um hipotético desafio europeu, nesta altura, com toda a certeza não seria disputado em Chaves, pois não temos as condições necessárias.''
Questionado sobre esta situação o presidente da SAD, explicou a opção tomada. ''É uma realidade e não vamos escondê-la. Não compensava ao Chaves, nesta altura, participar em competições europeias. Nós subimos este ano e vimos de uma situação, não muito longínqua, complicada. No final da última temporada apresentávamos 7 milhões de prejuízos acumulados, desde 2013, quando início da SAD. De salientar que fizemos investimentos de 2,5 milhões no estádio e 2,5 no Complexo Francisco Carvalho. A meu ver, o importante é a estabilidade financeira e colocar as contas da SAD a zeros nos próximos 5 anos. Estou convencido que no final desta época o saldo já vai ser positivo e ir à Europa seria um desastre económico e desportivo, pois teríamos que investir cerca de 2 milhões extra na construção do plantel, dinheiro que neste momento não temos disponível, pois estivemos três épocas na segunda liga em que tivemos prejuízos de 5 milhões. O dinheiro que estamos a contar no final desta época como positivo vai dar para assegurar a próxima época, com uma equipa competitiva e proceder às melhorias no estádio, como são o caso da iluminação, substituição dos bancos de suplentes e apoio técnico, wc’s e pinturas, pois estas são obras necessárias para o licenciamento do nosso estádio na próxima temporada e foi garantido, com as vendas dos passes de alguns jogadores, que fizemos no início desta época''.
Confrontado com um elevado número de entradas de dinheiro na SAD desde a anterior subida de divisão, destacando: Marcão - 4 milhões, Eustáquio - 5 milhões (3. 5 mais 1, 4), Maras - 1, 4 milhões, Davidson - 800 mil a 1 milhão, Assis - 1, 4 milhões, André Luis - 400 mil, por 50% do passe, Freire - 500 mil, Paulinho 350 mil, Kevin Medina - 400 mil, Pedro Tiba - 1 milhão, William - 300 mil, Alexsandro - 2 milhões mais 20% do passe, Kevin Pina - 1 milhão, Batxi - 1 milhão, Jorge Simão - 350 mil e Luis Castro - 400 mil, o que perfaz um montante superior a 21 milhões de euros, a resposta foi imediata: ''Para além desses números não corresponderem na totalidade à realidade, é bom que as pessoas se lembrem que, esses jogadores tiveram custos para o Chaves, com a sua contratação e, não éramos detentores de 100 % dos direitos económicos. Na grande maioria dos casos, tivemos apenas direito a percentagens do valor do passe e noutros casos essa percentagem não entrou logo nas nossas contas e vai ser paga de forma gradual. Posso mesmo dizer que com metade desse valor já ficava bem satisfeito''.
Segundo Francisco José Carvalho, o Desportivo de Chaves não tem ''estrutura, neste momento, para abraçar um projeto dessa dimensão. Vamos continuar a querer crescer e a dar um passo de cada vez, até porque um hipotético desafio europeu, com toda a certeza, não seria disputado em Chaves''.
O presidente da SAD não escondeu que a formação no Desportivo de Chaves vai ter que ser vista de forma diferente e avançou que quer criar uma equipa B já na próxima temporada, que vai competir da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Vila Real, mas quer contar com o apoio da autarquia.
''A nossa prioridade, não vou esconder e avanço já em primeira mão, é a criação da equipa B e melhorar as condições da formação. Este vai ter que ser o futuro, pois, cada época que arranca começamos com cerca de 1,5 milhões negativos. Temos que inverter estes números e conseguir vender todos os anos jogadores, para colmatar a diferença entre as despesas e receitas. Para isto acontecer, queremos contar com a autarquia e vamos ter, já durante esta semana, uma reunião para falarmos desta situação. Não temos Campos suficiente para as equipas todas e chegamos mesmo a ter duas equipas a treinar num só campo, com treinos a terminar às 23h.''
Segundo o líder dos Valentes Transmontanos, ''em quase 12 anos do projeto, conseguimos colocar o Desportivo de Chaves na elite do futebol português, melhoramos as infraestruturas do Estádio e construímos um Complexo, mas temos que continuar o caminho, passo a passo e na minha opinião esta é a altura e a única solução seria pela colocação de um sintético no Campo do Flaviense, que neste momento tem as infraestruturas a degradarem-se sem equipas a competir. Com um sintético, ia servir para algumas equipas jogarem e treinar e até a própria Flaviense podia voltar a ter uma ou duas equipas. Neste momento todas as equipas que apostem na formação têm 4 a 5 campos de treinos e achamos que para a viabilidade do projeto, temos que apostar mais na formação e por isso temos que dar condições para a formação evoluir'', disse Francisco José Carvalho, com a garantia de criar, já na próxima temporada, uma equipa B, ''para trabalhar com a mesma ideia de jogo da equipa principal, daí eu falar da importância do apoio da autarquia, adeptos e patrocinadores''.
Os direitos televisivos, na opinião do presidente da SAD dos flavienses, continuam a ser de grande injustiça para clubes como o Desportivo de Chaves, deixando já o aviso de que ''vão ser três anos difíceis, no que diz respeito a verbas financeiras, pois os valores dos direitos televisivos são muito curtos. Temos clubes que recebem 7 a 8 milhões, falamos por exemplo do Rio Ave, Vitória ou Marítimo e nós recebemos 3,6 milhões. Só com a centralização, em 2027, (assim está previsto se não houver alterações), é que vai existir um maior equilíbrio na divisão de receitas. Por isso, e devido as estas injustiças financeiras onde uns saem mais prejudicados, não podemos dar um passo maior que a perna. A Liga Europa seria um desastre económico e temos de avançar primeiro com as obras e criar estrutura. É uma questão orçamental. Os valores a investir não são cobertos pelas receitas, que são baixas e não justificam a nossa aposta''.
Quanto à situação de Vítor Campelos, o líder da SAD confirmou que ''a nossa primeira escolha sempre foi a continuidade de Vítor Campelos e ele sabe disso. Estamos dispostos a fazer mais um esforço para melhorar o seu contrato e garantir a continuidade. Posso mesmo avançar que, esta terça-feira (dia 16), vamos reunir e poderá sair desse encontro um acordo de renovação. Ele nunca escondeu que gostava de treinar em Inglaterra e aí nós sabemos que não conseguimos acompanhar a oferta, mas se optar por ficar em Portugal, estou certo que será em Chaves, pois também já guarda algum carinho por esta gente''.
Mesmo abdicando da UEFA, os responsáveis pelo clube mantêm a ambição de atingir ou superar os 47 pontos conquistados sob o comando técnico de Luís Castro, que foi a melhor classificação de sempre dos Valentes Transmontanos. ''Se ficarmos em sexto lugar será ótimo, mesmo não indo à Europa. Todos sabem bem disso e continuar a escrever o seu nome na história deste clube continua a ser um foco e um objetivo para todos'', concluiu o administrador da SAD Francisco José Carvalho, prometendo uma equipa competitiva, com renovações e caras novas para a próxima temporada.



Paulo Silva Reis
Fotos: Carlos Daniel Morais


16/05/2023

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