Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar aconselham população para atuação em incêndios

Em pleno mês de junho, inserido na época alta de incêndios, os Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar explicam como agir em caso de incêndio e dão conselhos sobre como proteger habitações e terrenos. Afirmam-se igualmente preparados durante o ano inteiro para o combate a incêndios.

A época alta, em que o risco de incêndio é maior devido a temperaturas elevadas, divide-se em três períodos distintos. A fase Bravo é de 15 a 30 de maio, com o primeiro reforço de operacionais e meios. A fase Charlie, onde nos encontramos de momento e onde há um segundo reforço dos elementos e meios, iniciou a 01 e termina a 30 de junho. Por fim, a fase Delta é a mais reforçada na sua totalidade e vai de 01 de julho a 30 de setembro.

Quanto à organização de mais uma época alta, Hugo Silva, Comandante dos Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar esclarece que “os Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar, como sempre, estão preparados o ano inteiro, não é só nalgumas fases do ano, como trabalham outras instituições”. Reforça que, dadas as ocorrências anuais, têm de estar “preparados de 01 de janeiro a 31 de dezembro”, uma vez que os incêndios florestais não são só no verão e que, neste momento, ocorrem o ano inteiro.

Quanto aos operacionais, a partir de 01 de julho esta corporação vai dispor de duas Equipas de Combate a Incêndios (ECIN), constituídas por cinco elementos cada, e que contam com o apoio logístico de mais duas equipas de dois elementos para manobrarem os dois veículos autotanque, com grande capacidade de armazenamento de água. Além destes operacionais, no quartel está sempre uma Equipa de Intervenção Permanente (EIP) durante 24 horas que, em caso de necessidade, pode ainda ser reforçada com mais duas EIP.

Não obstante, o Comandante Hugo Silva relembra que, apesar de estarem preparados, nem sempre chega porque “não sabemos o que pode vir”. Faz referência ao verão de 2024 que não tinha registo de ocorrências relevantes, até ao dia 16 de setembro, que iniciou com quatro grandes incêndios em diferentes locais do concelho, e que apenas no dia 19 foram dados como extintos. Estima-se uma área total ardida de 10 mil hectares e um prejuízo aproximado de quatro milhões de euros.

“Nós temos um dispositivo que achamos que é o adequado para uma primeira intervenção consoante as fases dos incêndios que tem a ver, por exemplo, com a meteorologia, mas pode ser esgotável, ou seja, basta acontecer como no ano passado, em que num dia tivemos quatro, cinco, seis incêndios em simultâneo e isto nenhum sistema aguenta”. 

Conselhos à população

O uso do fogo por parte da comunidade é o primeiro tópico a abordar, uma vez que, diz Hugo Silva, além dos incêndios que são intencionais e que se têm vindo a registar, existem muitos incêndios que acontecem por descuido das pessoas. O manuseamento de maquinaria ou ferramentas pode causar algum tipo de ignição e, como as pessoas não têm capacidade de extinguir a ignição, dá-se o início de um incêndio. É, portanto, aconselhada cautela nestas situações. Também a utilização de pirotecnia, para o fogo de artifício, muito utilizados nesta época de festividades, deve ser supervisionada para que não iniciem focos de incêndios.

Também a questão das queimas e queimadas deve ser tida em conta. Têm de ser registadas e posteriormente autorizadas pela Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar ao longo de todo o ano. Dependendo da meteorologia, podem ser realizadas até ao fim de junho, contudo, a partir de 01 de julho a 30 de setembro, já são proibidas, relembra Hugo Silva.

O Comandante da corporação aguiarense relembra ainda que, na época de temperaturas mais elevadas, até a utilização de uma fogueira para confecionar alimentos deve ser controlada, consoante o risco de incêndio diário, e existem restrições que as pessoas têm que cumprir. O risco de incêndio diário pode ser verificado no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que informa quais as ações permitidas ou proibidas.

Limpeza de terrenos

Tendo em conta que a limpeza dos terrenos deve ser realizada até ao fim de maio, sendo fiscalizada pela Guarda Nacional Republicana (GNR), é uma ação de extrema importância a nível de proteção de habitações e terrenos.

“Se as pessoas conseguirem manter a limpeza à volta das casas, já é uma grande ajuda e uma grande vantagem de segurança no caso de os incêndios atingirem as interfaces urbano florestal”, afirma Hugo Silva. Com uma faixa de segurança de, pelo menos, 50 metros à volta, “dificilmente o incêndio atinge a habitação e estão em segurança”, explica. A faixa de segurança implica o corte de toda a vegetação fina, que arde mais facilmente, assim como deve ser garantido o espaçamento de 4 metros entre árvores (10 metros no caso de pinheiros e eucaliptos) que impede o fogo de progredir.

Como agir perante a aproximação de grandes incêndios

O Comandante dos Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar começa por indicar que as pessoas devem ter noção de que uma chamada de auxílio não deve ser em vão, uma vez que podem vir a deslocalizar uma equipa e um veículo de uma ocorrência ativa. “As pessoas têm que ser conscientes quando acham que realmente o incêndio oferece perigo para a habitação e, aí sim, referenciar isso junto dos Bombeiros locais ou via 112 e não entrar em exageros. Nós entendemos que as pessoas precisam e nós estamos cá para isso”.

As pessoas vulneráveis e mais idosas devem estar resguardadas, preferencialmente dentro das suas habitações, se houver condições para tal. Já as pessoas que tenham a possibilidade de trabalhar, ou de ajudar com ferramentas manuais, como sacholas, enxadas e outras que tenham em casa, podem ajudar os Bombeiros porque “faz toda a diferença”.

Molhar o terreno não é indicado no caso de grandes incêndios porque as temperaturas atingidas são muito altas e acabam por evaporar a água rapidamente, sendo mais eficaz aplicar a água no próprio incêndio, disse o Comandante Hugo Silva.

“Os solos já estão muito saturados de água, mas na vegetação cria efeito contrário”

O facto de termos tido chuva até mais tarde nos últimos meses, traz desvantagens. A grande disponibilidade de água levou a que a vegetação crescesse acima da média. Hugo Silva ressalva que “daqui a alguns dias, principalmente com estas ondas de calor que já se estão a sentir, mais cedo do que no ano passado e principalmente agora em junho, vai levar a que essa vegetação mais fina seque rapidamente e fique disponível para arder, ou seja, a vegetação que arde, é muito maior quando chove mais, por ter tido um crescimento superior ao normal”.

Em situações mais atípicas como esta, há que voltar a confirmar as faixas de segurança em torno das habitações e terrenos, uma vez que, apesar de a população já ter realizado a sua limpeza, deve voltar a reforçá-la. Nesta fase, podem já existir limitações no uso de maquinaria para a limpeza do terreno que, uma vez mais, devem ser verificadas consoante o risco diário de incêndio florestal no site do IPMA.

Comandante faz um ‘rescaldo’ dos incêndios de setembro de 2024

“Estamos à porta de outra época florestal (…) e nada foi mudado, continua tudo igual. Não houve reforço de equipas, não houve indicação de pré-posicionamentos nas zonas mais críticas, como havia antigamente” e que tinha sido colocado em cima da mesa como hipótese já a iniciar neste ano de 2025.

Hugo Silva refere-se à passagem de comando a nível distrital para sub-regiões, em 2023, na qual a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) “deixou de fazer pré-posicionamentos no Alto-Tâmega, em Vila Pouca de Aguiar”, em que se mobilizavam equipas inseridas em zonas que ardem menos e com poucas ignições, para zonas com maior risco de incêndios. Indica que tanto poderiam vir equipas da região do Douro como de Lisboa, para o “ataque inicial ser mais musculado”. Conclui ainda que “desde que isto passou a sub-regiões, isso deixou de acontecer. Para mim foi erro”.

Relativamente às ajudas no combate aos grandes incêndios, o Comandante da corporação aguiarense avança que “infelizmente, os meios de fora eram escassos, ou quase nulos, e ajudou a que a área ardida fosse tão extensa”. Menciona os meios “parados em Vila Real, como toda a gente sabe, isso foi público, e não digo que este ano não possa vir a acontecer, porque o sistema é exatamente o mesmo”.

Uma outra questão apontada pelo Comandando Hugo Silva é o facto de os meios aéreos que estavam pré-posicionados em Vidago, ou seja, mais a sul, e o seu raio de atuação era mais dentro do país, estarem, neste momento, “posicionados em Chaves, onde metade do raio de atuação do helicóptero passou a estar em Espanha e ele não atua em Espanha”. Afirma ainda que são “estratégias erradas no nosso território” e acredita que “os políticos também têm aqui alguma corresponsabilidade”.

Quanto aos 504 operacionais avançados pelo Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil da ANEPC, Hugo Silva questiona quantos estão disponíveis de dia, ao fim de semana e à noite. “Que eu saiba só os Bombeiros, e se calhar a Guarda Nacional Republicana, é que mantêm equipas durante 24 horas por dia, o resto das instituições que funcionam por horários, não estão disponíveis no imediato 24 horas por dia, por isso, acho um bocado exagerado estarem tantos meios anunciados”.

O apoio crucial da população

O responsável pelo quartel de Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar não quis deixar de mencionar o papel fundamental que a população teve nos incêndios que assolaram a região em 2024. “Houve muita coisa que correu mal no sistema, mas também houve muita coisa que correu melhor do que em anos anteriores. E um exemplo é a população, que percebeu que fazia falta estar junto dos seus Bombeiros e mobilizou-se com tratores, máquinas e ferramentas, e andavam junto dos Bombeiros a ajudar”. Vai ainda mais longe ao frisar que se não fosse a população a empenhar-se, “os incêndios, se calhar, ainda eram bem maiores do que o que foram”.

Avança ainda que, felizmente, conseguiram ‘fechar’ os incêndios todos sem registo de mortes, e apenas com alguns feridos graves e feridos leves.

“A questão de a população se mobilizar é um indicativo positivo que se deve manter, sempre dentro das condições de segurança, porque não queremos que a população vá ajudar e depois não esteja preparada nem a nível de formação, nem a nível de equipamentos, e possa colocar-se em perigo sem necessidade”, remata Hugo Silva.

 

 

Ângela Vermelho

 

Fotos: Bombeiros de Vila Pouca de Aguiar


18/06/2025

Sociedade