Santa Casa da Misericórdia de Chaves recria a tradição da Desfolhada

O espaço exterior do Lar Nossa Senhora da Misericórdia – Casas dos Montes transformou-se na passada terça-feira numa grande eira e encheu-se de música e tradição durante a recriação da desfolhada. Um momento de partilha que juntou duas gerações de utentes da Santa Casa da Misericórdia de Chaves.

Sob orientação da equipa de animação sociocultural, crianças do pré-escolar que frequentam o jardim de infância Hugo e Vanessa juntaram-se aos idosos residentes naquela Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) e juntos celebraram a desfolhada, revivendo uma das mais autênticas e genuínas manifestações culturais que marcou outrora esta região.

 

Preservar usos e costumes

Alguns recordaram com saudade esta tarefa que praticavam na sua juventude.

Laurentino Pessoa, utente na ERPI de Casas dos Montes, lembrou que a desfolhada era uma tarefa que ocupava muitas pessoas que, como a sua família, viviam das atividades agrícolas.

“No meu tempo fazia isto muitas vezes. Antes de ir para a tropa ajudava muito os meus pais”, disse o agente de autoridade reformado, de 81 anos. “A minha família era de Sonim, Valpaços, e para dar de comer aos animais tínhamos de escanar o milho”, acrescentou.

O ritual da desfolhada recriado pelos idosos ia sendo explicado às crianças que também participaram.

“Desde o momento da sementeira dando lugar à cana que vai crescendo e que, por sua vez, dá o fruto que é a espiga”, o professor Dinis Martins, que integra a equipa de animação sociocultural, transmitiu todo o processo. “As espigas de milho eram colhidas e armazenadas. Serviam para consumo humano e para alimentar os animais. Depois de seco o grão era malhado dando, posteriormente, origem ao pão”.   

 

Tradição que lembra as raízes da nossa cultura 

A Misericórdia de Chaves pretende com a realização da desfolhada à moda antiga contribuir para ajudar a preservar este costume popular associado à lavoura e à vida comunitária que antigamente unia vizinhos e familiares.

“Reviver as tradições e costumes, atividades que faziam parte das suas vidas, no passado, e poder partilhá-las com as gerações mais novas, contando histórias e saberes de antigamente”, referiu a animadora sociocultural Carla Simão.

A ação intergeracional é para a equipa de animação sociocultural “sempre muito positiva, capaz de proporcionar aos seniores momentos de bem-estar que ajudam a estimular a memória e a desenvolver as capacidades motora e sensorial e aos mais novos aprender, sempre, com quem tem mais experiência, promovendo assim o espírito intergeracional”.

O coordenador do pré-escolar, Vasco Salvador, lembrou ainda que “as desfolhadas fazem parte de um património que deve ser preservado e transmitido aos mais novos”.

 


23/09/2024

Sociedade